terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Fouce, jornal galego

APONTAMENTOS PARA UMHA INTRODUÇOM NECESSÁRIA

Antom G. Matos


Alguns/as descobrimos tarde de mais aos arredistas da Fouce, depois de anos de luita independentista. Para muitos/as de nós foi mais do que umha revelaçom, significou toda umha pequena comoçom. O nosso ideário, salvando todas as diferenças e matizes que quiger fruto de épocas tam distintas, fora abraçado na sua essência há mais de sessenta anos por outros/as compatriotas. As nossas ideias-força, o nosso berro de independência –sem eufemismos nem discursos crípticos-, o nosso programa de ruptura com o marco jurídico-político espanhol, desbotando qualquer tentaçom autonomista, a denúncia das elites culturalistas do País, a acusaçom ao nacionalismo de eleitoralista, minimalista, capitulacionista e acomplexado, a crítica aos projectos políticos caudilhistas, a defesa conseqüente dos sectores populares e a sua urgente mobilizaçom, a necessidade de recorrer à violência defensiva, o reintegracionismo lingüístico, a reunificaçom nacional, o ánti-imperialismo…todo isto estava mais ou menos explícito, mais ou menos elaborado, naquela ediçom facsimilar de A Fouce publicada por Nova Galicia Edicións em 1992 que chegara às nossas maos. Desde logo que se a solidez de um projecto político for cousa de umha qüestom de maior ou menor orfandade histórica, sem dúvida que desde aquela fomos menos orfos, mais sólidos; encontráramos parte das nossas raízes históricas, completáramos parte da nossa árvore genealógica.

Paralelamente a esta descoberta començávamos a perceber em toda a sua importáncia a enorme urdime de interesses político-ideológicos que significa a historiografia oficial elaborada polo nacionalismo galego; da outra, a que emana dos variopintos interesses hispanos, logicamente já nom falamos. Desde aquela primeira História da Galiza da AN-PG de finais dos anos setenta até as últimas Histórias da Galiza dos anos noventa, o independentismo galego do primeiro terço do seculo vinte foi reiterada e deliberadamente silenciado quando nom, o que muitas vezes sen dúvida é pior, despachado de forma caricaturesca e despreciativa, infringindo as mínimas normas deontológicas que deve respeitar qualquer historiador honesto, ainda tratando-se de trabalhos de carácter eminentemente divulgativo. Deste jeito, os epítetos e as vaguidades substituírom a informaçom e a análise política e ideolóxica. O sarampelo arredista dos Beramendi e companhia foi todo o que ficou do labor de recuperaçom da memória histórica do País dos últimos trinta anos. Ocultaçom e imagem distorcida, reduzionista, foi o que recebemos do ideário independentista defendido por aqueles galegos do começos de século.


Cronologia básica

A unidade do nacionalismo atingida na primeira Assembleia nacionalista celebrada em Lugo os dias 17 e 18 de Novembro de 1918 racha na quarta assembleia realizada em Monforte em Fevereiro de 1922. Desde entom o nacionalismo galego ficaria dividido até a VI assembleia de 27 de Abril de 1930, assembleia de reunificaçom e reorganizaçom, que culminaria com a fundaçom do Partido Galeguista o 5 e 6 de Dezembro de 1930 na cidade de Ponte Vedra. Desta ruptura de 1922 vam sair duas linhas e duas organizaçons. Dumha parte a que engloba às Irmandades  da Corunha e de Betanços e doutra a Irmandade Nacionalista Galega (ING), conformada polo resto de irmandades galegas e as delegaçons de Madrid e La Habana. Vicente Risco, principal impulsor e referente ideológico da ING, encarrega a Ramiro Ilha Couto, chegado de Buenos Aires em Dezembro de 1922, a fundaçom de umha delegaçom da ING na Argentina. Ilha Couto e Eduardo Blanco Amor fundam em Agosto de 1923, com 16 membros, a ING de Buenos Aires como delegaçom matriz organizativa galega em América, o que vai ser o germe do principal grupo independentista galego.

A ING de Buenos Aires, que editou cinco números da revista Terra, divide-se, à sua vez, em 1924, em dous grupos. O grupo, chamemos-lhe “possibilista” ou moderado, encabeçado por Blanco Amor, que abandona a ING e ao que depois se lhe uniriam outros nacionalistas reformistas, e o formado por um grupo de militantes que vam constituir já o núcleo independentista, de momento sob as mesmas siglas da ING. A partir deste ponto, este grupo, com novas e sucessivas incorporaçons, conformará de forma estável até a guerra civil o sector independentista mais importante do nacionalismo galego.

Em 1925 os arredistas “refundam” a Irmandade Nacionalista Galega afastando-se paulatinamente do culturalismo e inoperáncia da ING galega e da sua cabeça mais retórica e visível, Vicente Risco. Em Janeiro de 1926 tiram à luz o primeiro número de A FOUCE. Este ano saem do prelo quatro números do jornal, interrompendo-se a sua publicaçom. Em Agosto de 1927 os independentistas reconvertem a ING numha associaçom cultural à que chamam Sociedade d´Arte Pondal. Esta mudança de táctica e de nome (na que há que incluir a interrupçom do jornal) deve-se, segundo Lino Pérez, na altura o activista mais relevante deste grupo, ao desejo de “entrar na Federaçom de Sociedades Galegas, Agrárias e Culturais, pois esta, de princípios socialoides e alheantes, nom admitia os símbolos nem os emblemas da nossa Naçom”. Contodo, de pouco lhe vai valer esta mudança epidérmica, pois dous anos depois, a finais de 1929, a Sociedade d´Arte Pondal acaba sendo expulsa da entidade mais importante dentro do contexto socio-político da colectividade galega na Argentina, controlada nestes anos polo nacionalismo republicano-autonomista (Suárez Picallo, Alonso Rios, Blanco Amor…) e mui vinculada à “orguista” Irmandade da Fala da Corunha. Os da Pondal nunca abandonariam o seu trabalho na FSG, mas tivérom quue conformar-se com intervir a título individual.

Os independentistas, enfrentados à tendência reformista-autonomista que controla a FSG e mui afastados já do acomodamento e inactividade que corrói os nacionalistas em teoria mais próximos a eles na Galiza, terám que iniciar um percurso político em solitário, projecto que exige um órgao de expressom próprio. Produto desta nova e fecunda etapa, em Fevereiro de 1930 reeditam A Fouce como quinzenário (sai à luz o número 5) e em Maio deste mesmo ano, numha assembleia ordinária, restruturam a organizaçom e mudam o nome de Sociedade d´Arte Pondal polo definitivo de SOCIEDADE NAZONALISTA PONDAL. O jornal A FOUCE publicará-se ininterrompidamente até Julho de 1936 (88 números), passando a ser mensal desde 1933. Atingiu umha tiragem de 2000 exemplares, dos que uns 1000 se enviavam à Galiza gratuitamente. Durante os anos trinta A FOUCE erige-se no segundo órgao de imprensa em importáncia no nacionalismo galego depois de A Nosa Terra (boletim mensal da Irmandade da Fala da Corunha). Doutra parte, a militância da Sociedade Nazonalista Pondal nom deixaria de incrementar-se nestes anos, chegando-se a situar por volta dos 100 sócios.

Desde o primeiro momento a Sociedade Nazonalista Pondal vai ter como guia do seu trabalho político a construçom dum partido independentista na Galiza. A sua própria organizaçom é concebida já como o germe desse futuro partido. Este alvo recolhe-se nos seus estatutos, aprovados na assembleia de Janeiro de 1931; no seu artigo segundo di-se “o seu carácter político será de apoio a um partido definidamente nacionalista que pudesse formar-se na Galiza”. Guiados por este fim os pondalianos estabelecem relaçons com líderes nacionalistas na Galiza teoricamente proclives aos seus postulados para reunificar as irmandades num partido independentista que aproveitasse a conjuntura de descomposiçom do regime espanhol imperante ao iniciar-se os anos trinta e depois de 1934 com o sector independentista da FMG. Como já sabemos, isto nom vai ter lugar. A reunificaçom e reorganizaçom dá-se em Dezembro de 1931, efectivamente, mas dá-se arredor dum chamado Partido Galeguista, pactista e colaboracionista, reformista, autonomista, eleitoralista e pouco sólido ideologicamente, empregando palavras da própria SNP.

A partir de entom os separatistas galegos de Buenos Aires esforçárom-se, com o seu jornal A FOUCE à frente, em tornar-se um referente político necessário, um aguilhom de denúncia, reivindicaçom e agitaçom independentista. A guerra civil vai significar umha barreira infranqueável também para os arredistas, mália estar tam longe do cenário bélico. A meados de 1938 quinze militantes abandonam a organizaçom por mor de divergências internas sobre a linha político-estratégica a seguir, que já vinham sendo latentes polo menos desde dous anos antes. A finais de 1938 tem lugar a autodissoluçom da Sociedade Nazonalista Pondal.

Umha visom de conjunto

É importante destacar o facto de a irrupçom histórica da corrente nacionalista-independentista ser praticamente simultánea à nacionalista-autonomista-federalista. Com outras palavras, o nacionalismo galego nasce como projecto e força propriamente política com as duas linhas no seu seio; se bem é claro que a linha independentista foi sempre notavelmente minoritária, menos elaborada-teorizada e menos estável ao longo do tempo. O primeiro programa estruturado que se conhece do nacionalismo galego é o Manifesto que sai da primeira assembleia nacionalista celebrada em Lugo em Novembro de 1918, entanto que as suas duas primeiras elaboraçons doutrinais som de 1920 (Teoría do Nacionalismo Galego, de Vicente Risco) e 1921 (Doutrina Nazonalista, de Ramón Villar Ponte). Mas 1921 é também o ano do nascimento da primeira organizaçom independentista, o Comité Revoluzonario Arredista Galego (CRAG), em La Habana, Cuba,  à frente do qual se situa Fuco Gómez, e neste ano aparece o seu Manifesto fundacional. Desconhecendo a numerosa obra escrita de Fuco Gómez, cuja publicaçom e divulgaçom é umha urgente necessidade, a maior elaboraçom e claridade dos primeiros postulados independentistas tem lugar a partir de 1926 da mao dos militantes da Sociedade Pondal e mui especialmente a partir da segunda época, entre 1930 e 1936.

O resto do independentismo dos anos 20 e 30, tanto na Galiza como fora dela, vai ter umha comunicaçom mais ou menos directa com a Sociedade Pondal. Serám ou bem militantes do PG que a título individual manifestam umha clara inclinaçom independentista ou pequenos grupinhos que emergem de forma pouco estável aqui e acolá defendendo um nacionalismo mais conseqüente, mais radical. Desde logo, o seu arredismo é menos diáfano em termos políticos, muito mais difuso, menos explícito, se exceptuarmos a última etapa da Federaçom de Mocidades Nacionalista (FMN). Cara meados dos anos vinte: a Mocidade Céltiga de Madrid e a Mocidade Cultural Galega de Compostela. Nos anos trinta: o grupo arredista de Antofagasta (Agrupaçom cultural Os enxebres) e a Irmandade Galeguista do Uruguai, que nom era senom a delegaçom do Partido Galeguista para crair em 1933 a Vangarda Nazonalista Galega, que tira um único número do seu vozeiro MAIS. Podemos circunscrever o período de um nacionalismo mais independentista de Álvaro de las Casas aos anos entre 1932 e 1934. Em Janeiro de 1934 constitui-se em Ourense a Federaçom de Mocidades Galeguistas (FMG), que formalmente sem dependência orgánica do PG e em cujo seio destacará-se a partir da segunda assembleia geral, em Abril de 1935, um importante sector independentista e revolucionário.

A corrente independentista

É indubitável que o grupo arredista de Buenos Aires, com umha vida política mais prolongada, umha estabilidade organizativa mais contrastada, um jornal com saida regular durante anos e um activismo político-social relativamente importante e continuado, supujo toda umha ruptura com o nacionalismo predominante.

A historiografia oficial impujo-nos umha visom em certa maneira confusa em relaçom às aportaçons ideológicas deste grupo. A predominante é a que lhe nega qualquer aportaçom ideológica ao nacionalismo galego. Segundo esta visom, as raízes ideológicas do seu discurso político apenas oferecem variantes a respeito das matrizes ideológicas do que se nutre o nacionalismo galego desde começos do século XX. Esta temática é em sim mesma importante. Estaria fora de lugar neste breve prólogo ensarilhar-nos na complexa questom do conceito chave de ideologia; por enquanto, vaia por diante que nom é um conceito monovalente, e que na própria esquerda há polo menos umha tripla interpretaçom ao respeito. O que sim está mais claro é que a historiografia oficial operou um processo de neutralizaçom-reduçom-estandarizaçom do conceito ideologia que exclui, por nom considerá-las relevantes, muitas das acçons-formulaçons carregadas de valores e significados, condutas e mesmo elementos utópicos e míticos. Dumha parte, a conformaçom dum sistema ideológico é avondo mais que a redacçom de um programa teórico, doutra, detrás de toda estrategia política lateja umha cosmovisom carregada de implicaçons vitais.

Podemos estar de acordo em que os independentistas da Pondal nom chegárom a sistematizar e rematar um ideossistema; mas que este ficou minimamente plantejado e que supujo um contraponto, em muitos casos umha autêntica antítese, da proposta político-ideológica do nacionalismmo maioritário, disto nom cabe a menos dúvida. Há pluralidade e matizes distintos nalgumhas propostas político-sociais dos activistas de Pondal, mas é visível em todo momento o plantejamento dumha linha, dumha corrente política e ideológica que desponta e que predomina. Portanto, devemos falar da corrente independentista como proposta programática e político-ideológica diferrenciada das suas coetáneas nacionais. Corrente político-ideológica fundamentada numha genuina articulaçom simbólica relacional dos diversos elementos cognoscitivos no seu agir nacional: a configuraçom de um autêntico espaço político próprio (ruptura significativa com o Iberismo), a dimensom política institucional (a consecuçom de um Estado próprio), a dimensom estratégica (mobilizaçom popular, acçom directa, consecuçom de apoios, aliados…), estruturaçom de um complexo mítico-simbólico específico, o sistema de comunicaçom ideológica…

Vamos assinalar a continuaçom, de um jeito mais detalhado, os traços básicos presentes no complexo político-ideológico da SNP:

Modernidade

Os pondalianos fôrom pessoas radicalmente do seu tempo. Nom ficárom à margem do “esplêndido agromar das diferenças”, em palavras de Francisco F. del Riego em outono de 1934. Somárom-se com entusiasmo, em primeira linha, à história; história que vivia “instantes de intensa e emocional actividade. Acordam as tracçons e as consciências por Europa, por Ásia, por América… Abre-se a nova idade com a luita dos oprimidos contra os opressores… Umha nova idade que mata o universalismo falso sem fronteiras…”(Guieiro. Março de 1936). Desmembramento do Império Austro-Húngaro, ruina final do Império Turco, reforma do mapa político dos Balcáns, surgimento de novos estados no Báltico, triunfo de velhas minorias nacionais, agudizaçom das luitas nacionais no Estado Espanhol, Congresso europeu das minorias nacionais… Os arredistas de Pondal ajudárom, sem dúvida algumha, a situar Galiza no carro da história e ademais figérom-no com coragem e determinaçom. O próprio contexto no que viviam favorecia o contacto e conhecimento fecundo da realidade contemporánea. Núñez Seixas fala-nos de um “ambiente cosmopolita no que os pondaliáns podeiam relacionar-se com grupos nacionalistas bascos, cataláns, croatas, ucranianos, quase sem sair do centro da cidade”.

Independência Nacional

O independentismo vai-se desenvolver com absoluta transparência política, longe de saudosismos, separantismos inconfessos ou pseudoarredismos essencialistas e retóricos. A Naçom debe programar-se políticamente como Estado. Defesa dumha República galega, democrática, ceive e independente. Neste ponto o horizonte discursivo do independentismo é diametralmente distinto ao do nacionalismo. O Iberismo, a Hespanha com “H”, a pátria comum sem hegemonia castelhana, o projecto político que salvaguarda o Estado plurinacional espanhol… está radicalmente enfrentado ao projecto independentista. No fundo o independentismo combate o imaginário ideológico da incapacidade, do complexo, da cobardia, da síndrome de Estocolmo.

O nacionalismo galego, ainda como proto-nacionalismo, está históricamente atravesado pola veta da neurose dependente autonomista-federalista desde a monarquia federativa de Alfredo Branhas e Vázquez de Melha ao Estado plurinacional de tipo confederal do Bloco Nacionalista Galego. No meio fica a autonomia integral da Assembleia Nacionalista de Lugo, o federalismo orgánico (federaçom hispánica) de Otero Pedraio, o federalismo corporativo e tradicionalista de Vicente Risco, a Espanha com “H” de Castelao (estado federal), o europeísmo federalista de Ramom Pinheiro, o federalismo “com tintes confederais” das Bases constitucionais ou a confederaçom das naçons ibéricas do PSG-EG. Mas ainda há mais! Nom podia faltar o “independentismo inconfesso”, esse que diz que lateja no fundo de muitos nacionalistas ao longo dos tempos e que os leva a ocultar inclinaçons naturais em aras do pragmatismo político. Ao jeito de um novo vampirismo, convertem-se em perigosos independentistas pola noite e correctos e inofensivos autonomistas-federalistas polo dia. Por certo, costumam ser os mesmos que se esforçam em convencer-nos de que por trás de todo estado confederal há um independentismo implícito. À frente destes hispano-dependentes, inconfessos, implícitos, difusos e virtuais, o País, transmudado à sua imagem e semelhança num gigantesco espectro, atoutinha errante polos labirintos da história.

Política rupturista. Carácter combativo. Activismo

“a impugnaçom do mundo colonial polo colonizado nom é um confronto racional dos pontos de vista. Nom é um discurso sobre o universal, mas a afirmaçom desenfreada de umha originalidade formulada como absoluta”. Estas som palavras de Frantz Fannon, mas podíamos, sem forçarmos muito a cousa, pô-las em boca dos separatistas galegos de Buenos Aires. Esta foi a sua filosofia. Nom podia haver compromisso político que nom exigisse o compromisso da alma. “Nada devem aguardar os galegos do opressor espanhol; o remédio dos nossos males afinca na nossa vontade” (A FOUCE, Janeiro de 1935). Denunciárom em todo momento a incompatibilidade entre nacionalismo galego e republicanismo espanhol, à vez que defendiam umha política abstencionista na participaçom nos assuntos da Espanha. Defendêrom e praticarom, em maior ou menos medida, o anti-pactismo à vez que rejeitavam as estrategias políticas acomodatícias e a tendência contemplativa imperante no nacionalismo “razoável”. As concesons som novas cadeias. Sabiam que as formas estéticas de respeito à ordem estabelecida criavam arredor do submetido umha atmosfera de submissom e de inibiçom que deviam ser combatidas. A acçom construi identidade nacional ainda que esta se manifestar em pequenos gestos. Neste sentido os pondalianos levárom a cabo umha defesa conseqüente da dignidade galega levada aos teatros e às ruas. Ante as representaçons teatrais, funçons radiofónicas… que ridiculizavam os imigrantes galegos, os pondalianos som os únicos que vam passar á acçom, que recorrem ao boicote. Isto figérom, por exemplo, em Abril de 1934 com a companhia do actor argentino Vacarezza, provocando um enfrentamento que rematou com a intervençom da polícia. Também fôrom os únicos que vam boicotar os actos públicos de políticos espanholistas.

Esta prática conseqüente aginha lhes custou o qualificativo de “fanáticos” ou “gamberros”. Como já citámos, por todas estas razons fôrom expulsos da FSG e o Partido Galeguista, a partir de 1933, exerce umha discreta pressom para evitar a influência perversa dos independentistas. Nom é difícil extrapolar estas vicissitudes à nossa realidade actual ou ao passado mais recente, exemplos hái-nos a dúzias.

Violência defensiva

A defesa do uso da violência política também vai estar presente nas páginas d´A Fouce. A descolonizaçom é sempre um fenómeno violento que debe romper com a legalidade e a ordem do sistema opressor. Ademais da mobilizaçom popular, julgam necessária umha violência organizada contra Espanha por meio de grupos secretos e disciplinados. Esta tendência nom chegaria a efectivar-se na practica. Os independentistas galegos também nom escapárom à corrente contemporánea: em geral, no período de entre-guerras, predominam as formas de acçom organizadas e pacíficas sobre as violentas. Também geralizando muito, é depois de 1945 quando se dá, de um jeito mais global, o salto aos movimentos de libertaçom que empregam a violência revolucionária.

Corrente democrático-progressista-corrente de esquerdas. Ánti-imperialismo. Anticlericalismo. Organizaçom de massas

A organizaçom interna da SNP é de carácter democrático, na que todos os membros da Directiva e todas as decisons deviam-se submeter ao acordo da maioria dos sócios, reunidos em assembleia com umha periocidade semanal. A maioria dos membros da organizaçom professavam ideias de esquerda. Sociologicamente a percentagem maioritária dos militantes dos que se conhece a profissom estava composta por empregados de comércio e banca (44%). Esta tendência esquerdizante devia-se submeter, em todo caso, à contradiçom principal Galiza-Espanha, que marcava de umha forma preponderante o seu agir político: no ámbito organizativo a prioridade é a de dotar ao nacionalismo galego de um forte Partido Independentista, democrático e de massas, com umha estratégia de mobilizaçom dos sectores populares, fugindo dos estreitos círculos intelectuais e do eleitoralismo. Os postulados claramente socialistas apenas vam estar presentes nas páginas do jornal. Vicente Barros é, quiça, quem apareça defendendo de forma menos ambígua e directa um independentismo de carácter socialista. O anti-imperialismo empapa todo o seu discurso. Com o alçamento militar de Franco no Estado Espanhol afirmam-se no seu antifascismo e tomam partido polas milícias populares. A SNP é laica e nom admite elementos da tradiçom católica entre as características nacionais da Galiza.

Anticulturalismo. Combate das minorias intelectuais

Umha prioridade, permanentemente agitada, é tirar o nacionalismo galego dos círculos literários sem projecçom social que funcionam a base de personalidades, de vacas sagradas.

Num plano histórico as teses culturalistas da Naçom, que sustentam a ideia de Naçom sobre o conceito totalizador de comunidade de cultura, estám na base da salvaçom dos grandes Estados plurinacionais hegemónicos. “Já declarámos a nossa posiçom nacionalista, quer dizer, cultural, frente a política castelhanizadora de Hespanha e ao arredismo português”(Castelao, Sempre em Galiza) Nestas palavras de Castelao está recolhida de forma transparente toda a cárrega de profundidade que na história do nacionalismo tivo este nacional-culturalismo, com conseqüências políticas importantíssimas. Em poucas palavras, este discurso, que forma parte da matriz político-ideológica do nacionalismo galego de sempre, vai possibilitar a sobrevivência do Estado unitário espanhol sob certas reformas. Isto mesmo é o que combatiam os independentistas galegos.

Estas elites culturalistas-literárias, desassossegadas e entusiastas, acaparadoras, situadas à frente da corrente maioritária do nacionalismo, com armas do gargarismo, o arronrom e a hibernoterápia convertêrom-se em esquisitos gestores do processo eutanásico do seu povo. Esta realidade comverteu-se, por dizê-lo dalgum jeito, em tema privilegiado do arredismo de ontem e de hoje. Reparemos, senom, nestes dous textos independentistas afastados por 58 anos:

“O nosso movimento nacionalista caracterizou-se até o de agora pola tendência parvamente aristocrática, que ollha na adesom de intelectuais e de artistas o único digno de ter-se em conta, tratando com desprezo as multidons e negando-lhe o direito de modificar, de discutir tácticas e interpretar doutrinas. As conseqüências deste aristocratismo, que no fundo nom é mais que parva egolatria, nom podem ser mais claras: o movimento nacionalista galego… fica reduzido em pequenos juntórios de inteligentes, impotentes de toda acçom, por falta de vitalidade e o dinamismo que unicamente as desprezadas multidons som capazes de dar-lhe ao nosso pensamento político” A FOUCE, 1930.

“Está-se já desde há anos na etapa onde a luita pola Libertaçom Nacional e Social deixou de ser património de umha elite culturalista e passou a formar parte de sectores populares: classe operária, ssector labrego, mulheres galegas oprimidas, sector marinheiro, mocidade, etc. Estes, principalmente os mais marginalizados e oprimidos, eram e som os mais convencidos de que sem dam passos qualitativos e de mais contrapoder no processo de LN e S esta nom seguiria a avançar” 1ª delcaraçom do EGPGC, 1988.

Este objectivo dos independentistas da SNP de converter o nacionalismo de elite em nacionalismo de massas leva aparelhadas outras conseqüências relevantes: i) umha mudança do sistema de comunicaçom ideológica. Devia substituir-se o “chefe” ou “dirigente” intelectual galeguista por “líderes” de índole independentista, políticos carismáticos, incendiários; ii) desenvolver novos métodos de luita, de intervençom e agitaçom social.

Defensa da Terra. Agrarismo. Livre-cámbio

Para a SNP a defesa da terra e a redençom do labrego eram prioridades básicas. Com grande lucidez sabiam que para um povo colonizado o valor mais essencial, por ser o mais concreto, estava na Terra, a terra que debe assegurar o pam e a dignidade. E nom havia pam nem dignidade sem indepenndência. Como Lenine anos atrás, para o qual o verdadeiro êxito da revoluçom começaria verdadeiramente quando a massa camponesa assumir um papel revolucionário activo, os pondalianos estimavam crucial a mobilizaçom revolucionária dos labregos galegos, maioritários dentro do espectro social do País.

Num plano geral, o importante debate da época sobre política económica “livre-cámbio contra proteccionismo” estava provocado pola “lei do desenvolvimento desigual”, ou “antagonismo centro-periféria”, se se quiger, imperante no Estado unitário e capitalista espanhol. Realidade e debate que vai ser de extraordinária importáncia para o surgimento das primeiras sensibilidades e estrategias nacionalistas e independentistas galegas. O proteccionismo espanhol enfrentava-se à defensa do livre-cambismo nacionalista. O proteccionismo espanhol impedia que Galiza pudesse tomar livremente a menor preço os cereais que precisava para o seu autoconsumo e para a alimentaçom da sua importante cabana gadeira, obrigando-a a comprar-lhos muito mais caros aos espanhóis. “Dias passados saiu um decreto do governo espanhol referente aos assuntos cerealistas. De acordo com ele fijo-se proibitiva, terminantemente proibida, a introduçom e importaçom do milho e do trigo estrangeiros. Nom servírom as encomendas das Federaçons agrícolas da Galiza, nom servírom os protestos dos sindicatos nem das cámaras de Comércio de Vigo e da Corunha. Os castelhanos pediam a protecçom e proibiçom a havia que atendê-los ainda que, para isso, morressem de fame os galegos”. (A Fouce, 15 de Abril de 1930)

Monolíngüismo-reintegracionismo e Reunificaçom Nacional

Os militantes da SNP praticárom um monolíngüismo conseqüente. Também neste ámbito fôrom intransigentes contra as atitudes acomodatícias e incoerentes. Reivindicárom umha escola nacional galega monolíngüe e criticárom duramente as escolas sustidas polas sociedades de emigrados na Galiza por converterem-se em instituiçons alienantes e espanholizadoras. Arredor de 1935 surgírom diferenças com o Seminário de Estudos Galegos por questons como o emprego em público do espanhol por um membro da instituiçom compostelana numha homenagem ao poeta Pondal.

O galego era galego português para a SNP. Defendem a ideia da unidade lingüística galego-portuguesa, ainda que a normativa empregada de forma majoritária nom for a que hoje conhecemos como reintegracionista. Esta aparece, porém, empregada em distintas colaboraçons no seu vozeiro. Alguns destacárom na sua defesa teórica e prática, como Antom Vidal, Antom Castro, Santiago Molha e mui especialmente o ferreiro sadense Ricardo Flores.

A reunificaçom nacional também ia estar presente no ideário dos independentistas. A Galiza é mais do que a Galiza oficial. Fundamentalmente fôrom reivindicadas de umha maneira mais concreta as terras entre o rio Eu e o Návia, e o Bérzio. Desta última comarca galega era um dos membros mais activos da SNP, Urbano Hermida.

Resaltar umhas pessoas e silenciar outras nom é umha prática atinada. Os legados som sempre colectivos, ainda que uns militantes destaquem por acima doutros por múltiplas razons, entre outras porque ostentem cárregos de responsabilidade. Porém, vamos fazer umha excepçom com Vicente Barros. Fazemo-lo porque neste galego da parróquia de Nourente, comarca de Ponte Vedra, convergem de um jeito mais diáfano os elementos que anos depois iam constituir o sinal de identidade do independentismo revolucionário: independência, socialismo e projecto político-militar. Pintor de profissom, militante muito activo e bom comunicador, foi presidente da Sociedade Nazonalista Pondal em 1932 e director do jornal A FOUCE  em 1933.

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